Sublimes comunhões
Quando os conteúdos são mais arrojados, gosto de avisar primeiro, não vá algum incauto púdico ler o que não queria.
Apesar de usar palavras suaves, antes de me iniciar na divagação, deixo o alerta: se lerem para além destes dois parágrafos, é por vossa conta e risco.
Parece que, na Rússia, andam a aparecer lições para quem queira aprender ou aperfeiçoar a "arte" do fellatio. Até aqui nada de novo, pelo menos na minha despreconceituosa forma de ver as coisas. Ora a razão de ser desta crónica nem é o fellacio em si e sim a reação de horror que a notícia de tais aulitas desencadeou em certos seres. Não bastando invocar que tais práticas levam à alienação e perda de identidade da mulher, bem como à miséria humana, a massa crítica ainda se fartou de "bater" (quem quiser pode rir agora com a bela escolha verbal) nos pobres russos, alegando serem uns desalmados materialistas sem qualquer espiritualidade. Conheço bastantes russos e, tanto quanto sei, apesar de um pouco ruidosos e loucos, são extremamente hospitaleiros e dados.
Mas voltemos às lições de fellatio! Para quê tanta indignação? Não são aulas sobre como praticar nenhum crime e quem tem vontade de aprender a fazer melhor as coisas deve sempre investir no desenvolvimento das suas habilidades, certo? Haverá perda de identidade da mulher pelo facto de também exprimir o seu amor dessa forma? Claro que não, muito pelo contrário.
Tudo isto deixa-me a pensar que continuam a existir demasiados tabus e que é em parte por culpa deles que as pessoas são tão ignorantes e preconceituosas.
Não posso terminar sem chamar a atenção para o seguinte: miséria é viver sem saber como dar e receber amor; é passar pela existência sem experimentar os inócuos e soberbos prazeres partilhados com paixão. Miséria é vivermos sem nos rendermos e entregarmos, com amor, a comunhões sublimes.
Ana Amorim Dias
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