Estado original
No meio de toda aquela confusão, consegui arranjar dois minutos para conversar um pouco com ele. Devido à forma como o diálogo começou a nascer, pressenti que talvez algo importante estivesse prestes a ser-me revelado. Como nunca quero correr o risco de perder "pitada" da vida, decidi esquecer tudo o resto e dedicar-me apenas a ouvi-lo.
- Somos todos peixinhos fora de água, sabe?-
- Peixinhos fora de água? Como assim?- perguntei, decidida a não o levar muito a sério.
- Sim! O nosso estado normal é em espírito e isto aqui no Mundo é muito violento para nós! Nascer, viver, morrer; tudo implica dor e sofrimento, coisas que não existem na nossa forma original. As pessoas estão é demasiado apegadas a tudo, até à dor, e não se apercebem que o seu estado normal é apenas em espírito.-
Horas depois, de forma completamente aleatória, apertei um pão e reparei na maneira como, ao largá-lo, readquiria a sua forma original. E então a lembrança das palavras do estranho homem invadiu-me o espaço interior.
Há uma tendência universal para tudo voltar ao seu estado original, para readquirir, após a pressão, a originária forma essencial. E nós? Qual é o nosso estado original? Presos às dores da vida? Ou ligados à invencível alegria do espírito? Haverá alguma ligação causal entre a consciência dessa alegria intrínseca e a activação de condições de vida mais aprazíveis? O esquecimento dessa alegria e perfeição essenciais tornará as existências mais difíceis? Estarão aqui encerradas as respostas que justificam a insatisfação de muitos que tudo têm e a alegria consistente de tanta gente humilde?
"Tudo tende a regressar ao seu estado original" repeti em voz alta, para me ouvir melhor. "O nosso estado original é pureza e alegria". Sorri e voltei ao rebuliço, completamente feliz.
Ana Amorim Dias
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