(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

2.9.13

Estado original

Estado original

No meio de toda aquela confusão, consegui arranjar dois minutos para conversar um pouco com ele. Devido à forma como o diálogo começou a nascer, pressenti que talvez algo importante estivesse prestes a ser-me revelado. Como nunca quero correr o risco de perder "pitada" da vida, decidi esquecer tudo o resto e dedicar-me apenas a ouvi-lo.
- Somos todos peixinhos fora de água, sabe?-
- Peixinhos fora de água? Como assim?- perguntei, decidida a não o levar muito a sério.
- Sim! O nosso estado normal é em espírito e isto aqui no Mundo é muito violento para nós! Nascer, viver, morrer; tudo implica dor e sofrimento, coisas que não existem na nossa forma original. As pessoas estão é demasiado apegadas a tudo, até à dor, e não se apercebem que o seu estado normal é apenas em espírito.-

Horas depois, de forma completamente aleatória, apertei um pão e reparei na maneira como, ao largá-lo, readquiria a sua forma original. E então a lembrança das palavras do estranho homem invadiu-me o espaço interior.

Há uma tendência universal para tudo voltar ao seu estado original, para readquirir, após a pressão, a originária forma essencial. E nós? Qual é o nosso estado original? Presos às dores da vida? Ou ligados à invencível alegria do espírito? Haverá alguma ligação causal entre a consciência dessa alegria intrínseca e a activação de condições de vida mais aprazíveis? O esquecimento dessa alegria e perfeição essenciais tornará as existências mais difíceis? Estarão aqui encerradas as respostas que justificam a insatisfação de muitos que tudo têm e a alegria consistente de tanta gente humilde?

"Tudo tende a regressar ao seu estado original" repeti em voz alta, para me ouvir melhor. "O nosso estado original é pureza e alegria". Sorri e voltei ao rebuliço, completamente feliz.

Ana Amorim Dias



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