(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

18.8.13

No puede ser tanta suerte

"No puede ser tanta suerte"

O piropo é, acima de tudo, uma forma de comunicação. E se o engate é uma "arte", o piropo é a sua inicial expressão.
Existem piropos para todos os gostos e emitidos pelos mais variados tipos de homens (e mulheres), sendo que o dito piropo e a forma como é proferido, nos podem dizer muitas coisas sobre o seu emissor.
"Ai menina, que me faz cair dos andaimes!", não é, à partida, frase que seja dita por um otorrino.
"Anda cá que eu não te aleijo!", demonstra uma falta de originalidade a toda a prova.
"Éh, gaja boa!!", leva-nos a concluir muito pouco, excepto que a pessoa tem descaramento q.b. e deve estar bem disposta.
Mas o que me levou a escrever esta crónica, não foi divagar sobre espécies de piropos e quem os verbaliza, foi precisamente o oposto: perceber como as mulheres os recebem!
Talvez seja um mecanismo de defesa mas tenho constatado que, por vezes, até as mais bem educadas mulheres se tornam rudes e antipáticas quando confrontadas com robustos piropos.
Como deve então uma mulher enfrentar esse momento sem perder a sensualidade, a segurança e a boa disposição? Como podem as mulheres tolerar certas frases sem se tornarem antipáticas ou perderem a classe?
O mau humor, o ar ofendido e a falta de gratidão de muitas mulheres, costumam deixar-me estupefacta. Reagem a um piropo como alguém a quem é arrancado um pedaço, sem perceber que no fundo se trata, quase sempre e apenas, de um visceral elogio. Mulher que fique ofendida é porque não compreende o rudimentar funcionamento de certos homens cujo cortejo adquire formas algo trogloditas. Mulher que responda mal ou fique indisposta para o resto do dia é porque não tem os níveis de confiança e amor próprio no lugar.
A verdade é que lidar com estas situações com leveza e compostura é muito simples: se o piropo é de mau gosto, basta ignorar por completo e seguir caminho; se é um "clássico" inofensivo, um sorriso divertido de agradecimento fica sempre bem e deixa um rasto de boa disposição; se é uma pérola de originalidade e graça, pode até guardar-se como uma boa memória. E mais: não é o facto de se aceitar o cumprimento com uma simpatia sorridente que torna quem o recebe numa presa oferecida. Pelo contrário, a atitude segura e agradecida, faz os emissores entenderem que o assunto acaba ali.
E tudo isto me faz voltar muitos anos atrás no tempo e recordar uma noite em que, ao sair de uma discoteca em Espanha, um homem se virou para o Ricardo e lhe disse: "No puede ser, tanta suerte!"

Ana Amorim Dias


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