(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

26.8.13

I wonder

I wonder

O filho da minha amiga chegou à mesa com um entusiasmo incomum. Embora o almoço já tivesse terminado, continuávamos sentados a conversar sem pressas.
- Mãe, mãe!! Acabei de me pesar! E sabes uma coisa? Engordeci!!!
Enquanto todos se riam já eu estava a aproximar o iPhone de mim para apontar no bloco de notas esta imperdível pérola.
A minha cunhada ainda acrescentou algo do género:- Deixa estar que logo "emagras"!- mas eu já nem liguei. Tinha partido para longe, para a terra mágica das palavras geniais.

Infelizmente uma das palavras que considero tremendamente genial não é portuguesa. Gosto dela quando antecedida pelo "eu", pois só assim se torna profundamente rica e intradutível: estou a falar-vos do "I wonder"! Sem o "I" significa simplesmente "maravilha" mas, ao transformar-se em verbo, é que a maravilha acontece mesmo e, numa palavra só, sintetizam-se o "eu penso", "eu pergunto-me", "eu imagino", "divago", "suponho", "equaciono", "medito" e por aí fora.
Mas não era só aqui que eu queria chegar. A viagem ainda vai a meio. Acompanhem-me e vejamos se, juntos nesta divagação, não "engordecemos" as nossas essências.
Muitos de vocês já se aperceberam que estou sempre em modo "I wonder". O que procuro nunca acrescentar é o "if". "I wonder if" é o equivalente ao "e se?" E se tivesse sido diferente? E se eu tivesse feito outra escolha? E se eu tivesse optado por aquela outra situação? Fujo disto a sete pés! O encanto do "I wonder" é inversamente proporcional à repulsa que sinto pelo "I wonder if".
Somos os arquitetos da nossa existência. Foi cada pequena escolha, feita ao longo da vida, que nos colocou aqui, agora, exatamente assim. Cada insignificante opção tornou-se numa parte do todo causal deste momento. Ou somos suficientemente loucos para concordar a cem por cento com todas as nossas escolhas, ou corremos o risco de viver constantemente amargurados pelo "I wonder if". Bem sei que é difícil não cair por vezes na tentação de sair a navegar pelos mares do hipotético mas o "como teria sido se..." é questão que não devia interessar a ninguém. As coisas são como são porque as escolhemos assim ou porque o destino ou acaso assim as proporcionaram. É por isso que não me permito, nunca, perder tempo a questionar as decisões que já tomei e as escolhas que já me vi obrigada a fazer. Repetiria as mais importantes. E as mais insignificantes também, na sua grande maioria. Acho que assumir tudo sem "e ses..." é uma das grandes chaves para vivermos bem connosco.
Resta-me agradecer ao pequeno Gastão, por me ter proporcionado mais esta reflexão que tanto me engordeceu a alma!

Ana Amorim Dias

Sent with Writer.

Sem comentários:

Enviar um comentário