(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

16.6.13

Vozes

Dois dias de silêncio forçado. Dois dias complicados, a ouvir sem poder responder. Dois dias muito longos, passados a pensar sem expressar; passados a quase nada dizer por ter que poupar a voz.
Mas estar afónico é uma benção. Todos devíamos ter afonias esporádicas para conseguir interiorizar certas coisas. Porque não deixar escapar na voz tudo aquilo que verbalizamos, pode trazer consequências soberbas.
Há quem fale demais. Há quem cale demais. Há quem faça valer tudo aquilo que diz. E nem acredito que haja falta de espontaneidade em quem doseia sabiamente a utilização das cordas vocais.
Há coisas que não precisam de ser ditas: explicam-se melhor no silêncio.
Há outras que mais vale calar: nada de bom originam.
Há frases óbvias, feitas, feias, que nem sequer correspondem ao que se está a pensar: a sua utilidade é nula.
Há tons de voz cortantes, despropositados e frios que nada resolvem e fazem quem os emite sentir-se ainda pior.

Há vozes firmes, delicadas mas ainda assim decididas, que se bastam com poucas palavras.
Há palavras doces mesmo para dizer coisas tristes.
Há frases que marcam positivamente e para sempre a vida das outras pessoas.
Há dizeres que causam gargalhas, alegria, paixão e compaixão.

Falar ou calar é mais que uma questão de espontaneidade ou calculismo. É uma questão de sabermos escolher bem o uso que damos à voz! Falar sim, sempre, mas de preferência para fazer coscuvilhice invertida (falar bem de uns aos outros), para inspirar, transmitir esperança, coragem, amor; falar para nos tornarmos melhores, para melhorar a vida dos outros e colar-lhes um sorriso à cara; falar para mudar o Mundo, ou pelo menos para tentar.

Por tudo isto não posso dizer que não aproveitei bem estes dias: treinei-me um pouco a usar a voz apenas quando daí venha algo de positivo. E de caminho percebi que muitas vezes quanto mais baixo falamos mais alto nos fazemos ouvir.

Ana Amorim Dias

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