(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

24.5.13

Con los años que me quedan

Con los años que me quedan

Aproveito o facto de andarem todos lá fora para fazer o jantar com a música a soar bem alto. Três pauzinhos de incenso. O iPod no deck, em modo aleatório. Os brócolos, os calamares, os ovos com farinheira. Tudo a ser preparado numa cozinha estranhamente impecável. Abano-me ao ritmo certo. Sirvo-me de uma taça de vinho. Pela janela vejo os três, com a felicidade estampada nos corpos, montados no trator cor de tijolo.
"... sé que nuestro amor es verdadero, con los años que me quedan por vivir demonstraré quanto te quiero..."
A Glória Stefan começa a cantar a música que o meu pai, na última década, costumava dedicar à minha mãe, com o ar embevecido que só os grandes amores sabem vestir.
A comida olha para mim com tristeza, libertando odores que me trazem de novo a fome dos seus abraços, a sede daquele aperto, protetor como nenhum outro. Por uns momentos o coração fica-me do tamanho do corpo inteiro. Sou só sentir. Sou só saudade imensa daqueles lábios na minha testa, em jeito de benção. As lágrimas saltam, o corpo convulsiona-se. Deixo-me levar pelos braços angelicais da fortaleza perdida.
"...con los años que me quedan, te haré olvidar qualquier error, no quis herirte mi amor, sabes que eres mi adoracion, lo serás mi vida entera..."
Estas palavras também podiam ser para mim. Ergo-lhe o copo num brinde eterno, quase feliz.
" ...el tiempo te dirá si tienes fé en mi, que como yo te amé más nadie te podrá amar jamás.."
E então percebo, antes que a comida se queime com a minha ausência emocional, que o tempo trouxe a fé, sim. Que como ele me amou mais ninguém me poderá amar jamais. E que a tristeza daquele abraço que me falta nada mais é que a alegria imensa de um amor que não morre enquanto eu viver.
"...sé que aún me queda una oportunidad, sé que aún no es tarde para recapacitar, sé que nuestro amor es verdadero. Con los años que me quedan por vivir demonstraré quanto te quiero"
E eu? Eu sei que não são os anos que faltam a quem já se foi que lhes impedem as demonstrações de amor por quem ficou. Sei que nos continuarão a amar enquanto nos sobrarem anos de vida a nós.

Ana Amorim Dias

Sem comentários:

Enviar um comentário