(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

6.5.13

Ao menino do mar

Ao Lourenço, o menino do mar

Querido Lô, a história hoje é para ti, meu amor. Vou contar-te o que aconteceu ontem, ao fim da tarde, cá na Quinta.
A tia estava a fazer zumba e mandou os primos estudar. Os malandros queriam fugir para a rua porque o João tinha feito uma descoberta qualquer que queria mostrar ao Tomás. Eu queria que eles fizessem os trabalhos de casa mas os bandidos dos teus primos, armados em malcriadões, disseram que não os faziam. E então a tia, toda esbaforida e suada, interrompeu a zumba e fez cara de má!
Sentei-os na mesa da sala e disse ameaçadoramente:
- Não se atrevam a sair sem isto estar tudo feito!-
Passado um bocado o João foi ter comigo e entregou-me os trabalho já terminados. Ainda os ouvi descer as escadas a correr e depois fui tomar banho.
Quando estava a acabar de me vestir, vi uns movimentos estranhos no corredor: estavam os dois com luvas de cirurgião, a atravessar a casa com um aquecedor a óleo. Trancaram-se os dois, muito misteriosos, no quarto do João e não ouvi mais barulhos.
Não sei se sabes, querido Lô, mas quando a tia acaba a zumba, fica com uma fome de lobo, por isso a minha paragem seguinte foi a cozinha, onde fiz um ataque grande ao frigorífico.
E ali estava eu, entre fruta, queijo e pão quando vi o João chegar, sorrateiro, para preparar migalhas e um pequeno copo de leite.
- O que é que vocês andam a tramar, filho? - perguntei-lhe. - Porque é que estão trancados no quarto? Porque estás a preparar migalhas? Têm algum bicho escondido?-
A cara que ele me fez não deixou nenhuma dúvida.
Voltei a perguntar:
- Não é um réptil, pois não?-
- Sim, mãe.-
- Uma cobra?-
- Sim, mãe.-
- Está bem presa?-
- Não, mãe. Ela soltou-se e estamos a tentar apanhá-la!-
Como podes imaginar, a tia não gostou nem um bocadinho da ideia de ter uma cobra à solta lá em casa e, muito zangada, telefonou ao tio Ricardo para ele ralhar com os teus primos.
E então o João riu-se e acompanhou-me ao seu quarto onde, em cima do aquecedor, estava um ninho, cheio de passarinhos bebés.
- Eles assim vão morrer! - disse-lhes eu cheia de pena.
- Nada disso, mãe! Nós tomamos bem conta deles!- disse o teu primo Tomás.
Mas sabes, Lô? Tive que pôr o ninho na árvore porque senão os pobres passarinhos morriam mesmo. Assim, quando tu voltares da Colômbia, eles já vão estar grandes e fortes e vão voar para que tu os vejas...
Um beijo grande da tia, meu lindo menino do mar.

Ana Amorim Dias

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