(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

5.7.13

Sou um homem do campo

Homem do campo

De repente lembrei-me que uma das atividades dele, durante o dia de férias ativas, seria o ténis.
- João!... Esqueci-me de te pôr as sapatilhas na mochila!
- Não faz mal, mãe. Estou de chinelos e agora vamos ter praia.-
- Pois, mas li no papelinho que esta tarde vais ter ténis... E agora? Não podes jogar ténis de havaianas!
- Ah bom! Claro que posso! Eu desenrasco-me, sou um homem do campo!
As gargalhadas propagaram-se dia fora. De cada vez que me lembrava do "homem" do campo, várias imagens me vinham à cabeça. Aquela vez em que me foi acordar com bigodes e uma sobrancelha cerrada; as correrias com as galinhas; o manuseamento dos bichos; as pescarias na barragem. Lembrei-me de quando o vejo, pela janela da cozinha, a passar no lombo da égua sem cela ou com o pai no trator. E depois recordei-me do dia em que, na citadina casa da minha mãe, vi o petiz muito intrigado a olhar para o buraquinho de vidro que existe na porta da rua.
- Mãe!! A porta da avó tem um buraco!!!-
Expliquei-lhe para que servia.
A criança sempre viveu numa quinta e, apesar de já ter viajado bastante e conhecer grandes metrópoles, continua a desconhecer a realidade de viver numa cidade.
Afinal qual é a diferença entre os homens da cidade e os do campo? Quanto a mim há apenas duas mesmo dignas de registo: é que, com os homens do campo, qualquer mulher se sente segura para sobreviver numa ilha deserta ou em caso de catástrofes... e, de acordo com o que constatei, os do campo auto-intitulam-se "homens" logo desde os oito anos!

Ana Amorim Dias

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