(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

30.6.13

O estranho mistério da clavícula torta

O estranho caso da clavícula torta

Há uns anos, não sei precisar quantos, apanhei um susto no banho. Passava eu o gel pelos ombros e, ao chegar à zona das clavículas, apercebi-me que as tinha completamente diferentes uma da outra. A esquerda estava direitinha e a direita toda amolgada, metida para dentro na parte central do osso. Habituei-me ao facto e passei a ignorá-lo quase na mesma medida em que o ignorava antes de nele ter reparado.
Mas ontem ao almoço, talvez a propósito de alguma conversa, lembrei-me da clavícula torta e percebi finalmente que a devo ter partido à nascença sem que ninguém se tenha apercebido. Comentei a minha constatação perante o olhar espantado da minha mãe, que insistiu em comprovar com as suas próprias mãos e olhos este defeito de fabrico.
Ao fim do dia, quando lhe fui dar o beijo de boa noite à cama, confessou-me ter ficado incomodada e preocupada por nunca ter dado por nada. É claro que só me arrancou gargalhadas.
Tenho as minhas conclusões formadas quanto ao estranho caso da clavícula torta. Ela é como aqueles pedacinhos da nossa alma que já se quebraram sem nos termos apercebido e que se soldaram de novo, de uma forma muito própria e deveras eficiente. Ela é um símbolo de como quebramos e recuperamos de forma quase automática. Mas para mim, cá bem no fundo, a minha sui generis clavícula direita, é mais uma manifestação dos meus super poderes que, um atrás do outro, se continuam a revelar!

Ana Amorim Dias

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