(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

30.6.13

Ao som dos chocalhos

Ao som dos chocalhos

Deviam ser umas dez da noite quando comecei a ouvir os chocalhos. À meia noite o Tomás veio reclamar: de janela aberta não conseguia adormecer porque as vizinhas fugitivas faziam muito barulho e com a janela fechada tinha que ligar a ventoínha que fazia um chiar estranho.
Segui-o até ao quarto, matei os três mosquitos, fechei a janela, arranjei a ventoínha e dei-lhe o "beijo mágico", capaz de adormecer quem já bebeu dez cafés. Cinco minutos depois a criaturinha respirava profundamente, entregue ao seu sono tranquilo. E eu continuei o meu serão embalado por chocalhos.

- Pai, pai!! Compraste vacas?? Yeeeyyyy!- o João chegou ao quarto a segurar um tabuleiro com o pequeno almoço para todos, provavelmente para comemorar e agradecer a "compra" das cinco vacas cujos chocalhos continuavam a soar.
- Não João. São vizinhas fugitivas.-
- Ooohhhh.-
Provei o leite com chocolate e engasguei-me.
- Filho: deixa-te de pequenos almoços. Está outra vez horrível.-
Habituado à minha frontalidade sincera, deu-me um satisfeito "Está bem" e foi olhar para as vacas chocalhantes que continuavam a espalhar bosta pelos relvados.

Quando saímos de casa e parei para as fotografar, olharam-me com o focinho de "O que é que foi? Há algum problema??" e eu respondi que "Não, não há problema nenhum". Gosto de chocalhos, mosquitos, ventoínhas chiantes e leites mal misturados. Acho que é a conjugação disto tudo que me faz mesmo feliz.

Ana Amorim Dias

Sem comentários:

Enviar um comentário