Vertigem
Quando se percebe que se ama alguém devia ser obrigatório perceber também que já não se caminha em chão firme e, pelo contrário, cada passo é dado no limiar do mais vertiginoso abismo.
Quando, mesmo contra vontade, se começa a amar, essa maravilhosa alquimia traz implícita a vertigem da queda. Porque passa a haver a necessidade do outro. Porque os humores de repente dependem da eficiência com que esse outro se entrega e revela o seu amor.
Amar é lixado. É um imenso ganho cheio de potenciais perdas. Amar é consentir abertamente que o coração seja arrancado do peito sem anestesias de qualquer tipo. Amar é o sentimento mais louco que pode existir por encerrar no seu âmago as mais antagónicas sensações. Amar é a mais insana e perigosa ação a que a pessoa se pode entregar porque implica delegar a outrem a responsabilidade da mais intrínseca alegria.
Se defendo que não se ame?? Claro que não! Como poderia condenar a mais grandiosa razão da existência; o que faz as vidas merecerem ser vividas? Apenas me parece que, já que amar é viver na vertigem do precipício, todos deviam ter a consciência de manter bem preparadas as asas do amor próprio, para não iniciarem nenhuma queda livre de cada vez um amor chega ao fim.
Ana Amorim Dias
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