(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

23.2.13

Mostrar a língua à vida

Mostrar a língua à vida

- Até amanhã, filha. E porta-te bem... se conseguires.- Não percebo porque é que a minha mãe se despede assim de mim tantas vezes. E mal sabia ela ontem, ao desligar o telefone, da loucura que momentos antes eu tinha lançado sobre a casa e todos os seus habitantes.

- Pronto! Acabou-se o sossego! - diz a menina Rita quando me vê chegar. Será porque a estrafego com mimos e beijos e falo alto e a ponho num virote? Talvez e, no entanto, sei que ela adora que o sossego se acabe.

- Mas será que não há quem ponha ordem nesta Quinta? - pergunta a Cristina, num desespero divertido, quando lhe invado a cozinha como se fosse um vendaval. Haver quem ponha ordem até há, mas ninguém quer fazê-lo porque todos percebem que a vida assim é melhor.

Não costumo parar para pensar no que potenciou os constantes ataques de maluquice divertida que espalham a boa disposição ao meu redor. Será um condicionalismo genético? Será que decidi, sem saber, levar a vida a brincar? Ou será devido à possibilidade constante de fazer figuras de ursa sem que grande mal venha ao mundo? E se eu trabalhasse numa conceituada firma de advogados onde não seria bem visto andar com calças de ganga rotas, colares tribais, brincos de penas e onde eu não pudesse andar a atirar borrachas aos colegas ou a imitar sons intestinais ao soprar uma palhinha no sovaco? Sim, como seria a minha vida se eu ligasse aos olhares estranhos que me lançam por dançar em todo o lado e cantar no carro a plenos pulmões?
Duvido que consigam algum dia roubar-me a alegria e as suas estranhas manifestações. Porque se o tentarem fazer eu escondo-me atrás de uma árvore e ponho-lhes a língua de fora! É isso: sempre que o destino voltar a conspirar contra mim, hei-de mostrar a língua à vida!

Ana Amorim Dias

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