(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

28.7.13

Chegada da guerra

Chegada da guerra

O que faz uma pessoa quando chega da guerra?
Eu descarreguei as compras.
Depois tomei um longo banho, dei de comer ao gato e limei as unhas. Senti-me tentada a adormecer um pouco, mas as palavras escondidas em mim, falaram mais alto que o sono, exigindo vir à tona.
Estendida na cama, ouvindo o vento lá fora, atribuo-lhe agora uma grande parte da culpa. Pior que um dia frio de verão é um dia frio de verão no Algarve. O povo salta dos areais e invade as estradas, as terras, as ruas. Demorei quatro horas a tratar de coisitas que, na pior das hipóteses, me costumam tomar duas. Carrinhos de choque com os corpos, com os carros de supermercado e com os carros verdadeiros. Caras carrancudas, stressadas, aborrecidas. E as buzinadelas. Pergunto-me para quê. Quem está parado na estrada não o faz por gosto: é porque não pode avançar.
Cheguei da guerra, mas só cansada. Vim ilesa de corpo e alma. Estive lá mas com o escudo imunitário de quem é só observador. É muito melhor assim. Não fiz más caras, cedi várias vezes passagem com o corpo, com o carrinho de supermercado e com o carro, enquanto via a aborrecida multidão e ouvia os "buzinadores". Posso não ter descoberto a explicação para certos comportamentos, mas comprovei que quando se olha como se se estivesse de fora, a nossa atitude tende a ser diferente e melhor.
Agora vou fechar os olhos e talvez sonhar com as caipirinhas que vou fazer daqui a pouco...tranquilamente...e sem buzinas.

Ana Amorim Dias

Sem comentários:

Enviar um comentário