(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

28.7.13

Aquele som

O som

Quando ele começou a puxar, todos fizemos silêncio. As conversas pararam para reverenciar o som da rolha a saltar da garrafa daquele excelente vinho tinto.
E ele, de uma forma que me pareceu ligeiramente maquiavélica, fez a rolha deslizar com tal suavidade que o "ploc" que todos queríamos ouvir acabou por não soar.
- Que maldade, Ricardo! Queríamos ouvir o som!!- reclamei.
- Desculpa lá mas assim é que as garrafas se devem abrir. Assim é que é fino!-
Por momentos pensei que ele me estivesse a gozar mas, nos dias seguintes, comprovei a teoria com pessoas que considero idóneas. Não é no entanto por ser de bom tom abrir garrafas sem escândalo que a minha alegria se acomoda ao silêncio. Com o champanhe nem me importo muito, conformo-me com um "ploc" deslavado, causado quase numa envergonhada surdina. Mas o vinho tinto? O néctar dos néctares? Não celebrar uma das mais perfeitas formas de arte em que natureza e homem trabalham num esforço conjunto? Não me parece etiqueta, soa-me mais a crime!
Não sei se nos próximos dias abrirei alguma garrafa mas, da próxima vez que o fizer, colocarei no sonoro "ploc" toda a minha mal educada alegria. Porque a vida não é a soma das regras e da etiqueta, é (ou deve ser) uma constante celebração agradecida!

Ana Amorim Dias

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