(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

11.2.13

Alimentadores

Alimentadores

Desconfio que sou assim desde sempre, mas só ao longo da vida adulta é que me comecei a aperceber disso de forma mais consciente. Não me consigo libertar da mania de tentar fazer com que as pessoas comam. Dá-me um imenso prazer ver toda a gente a comer e a beber à minha volta. Só estou bem a atulhar os outros de comida, seja quem me aparece em casa, seja nos casamentos cá na Quinta. Desde que haja grandes quantidades de comida (e bebida) a serem ingeridos com convicção e prazer, sinto que estou a cumprir bem o meu papel.
Assim, e assumindo-me como alimentadora há já muitos anos, começo a estranhar o facto de nunca ter analisado mais profundamente as motivações de tal tara. Será que há outras vidas e em alguma delas fui um chefe de tribo que deixou a populança desfalecer à mingua? Ou terei passado eu mesma muita fome? Será que esta mania se prende com carências ou abundância? Será que é por eu própria gostar tanto de comer que quero proporcionar fartura aos outros? E o que é mais curioso é que, tal como faço com a comida, também sou fervorosa adepta de alimentar com palavras. Os "porquês" é que me escapam e isso não me agrada nada.
No entanto, e para me consolar, concluo que o mais importante não é perceber as razões que nos levam a ser como somos, é sim gostarmos imensamente da nossa maneira de ser!

Ana Amorim Dias

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