Degredo na estupidez
Por altura da Passagem de Ano pensei que já tinha de novo acesso seguro à TVI; julguei erroneamente que não mais corria o risco de, no meio do zapping, me deparar com a voz odiosa da Dona Teresa a estimular o já elevadíssimo grau de estupidez crónica de pessoas que, tanto quanto me apercebo, vieram do Planeta Stupidity.
Enganei-me redondamente. Num dos novos dias deste novo ano (para o qual desejamos sempre muitas coisas boas) enquanto, de comando em riste, ia levando uma maçã à boca, deparo-me com uma cena pior que o Freddy Krueger e a menina do Exorcista a fazerem juntos uma festa do pijama: era a Dona Teresa a interrogar novos belíssimos espécimes dessa estranha estirpe de gente.
Escusado será dizer que me engasguei logo com a maçã e percebi que, até novas ordens, a TVI está interdita sem apelo nem agravo.
"Mas, Ana... Tu até és corajosa... Não podes recuar perante o perigo! Tenta ver um bocadinho para poderes escrever sobre isso", repeti-me imensas vezes, sempre sem conseguir fazer a paragem no tal canal.
Mas ontem enchi-me de força. Apertei os punhos, cerrei os dentes e, com o coração a ribombar de temor, fixei a minha atenção naquilo. Como quem aguenta uma dor lancinante; como quem se expõe à mais dura das provas, ouvi, por cinco intermináveis minutos de sofrimento excruciante, a voz de uma quantidade de gajas à bulha umas com as outras. Devo ter entrado num estado semi-catatónico, porque só me lembro de ouvir frases soltas que nem sequer me atrevo a reproduzir, de tão vazias de sentido.
Nunca conseguirei entender como é que um programa assim tem audiências. Apenas me ocorre que, tal como os condenados ao degredo, as pessoas que o vêem aceitem a condenação ao compulsivo afastamento da terra Natal da sua própria inteligência.
Ana Amorim Dias
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