(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

1.4.13

Foco

Ganhar

Começo pelos matraquilhos. Um contra um. Ganho. O adversário, com o seu mau perder, desafia-me para um jogo de snooker.
- Quem ganhar este, ganha tudo.- explica, com vista a salvar a face.
Aceito. Sei que as minhas hipóteses são fracas porque, ao contrário dos matraquilhos, o snooker não é a minha especialidade. O meu oponente é bem mais forte que eu neste novo campo de batalha.
Dou a tacada da partida. Forte, firme, seca. As esferas ficam bem espalhadas e o adversário mete duas bolas e estrutura o seu jogo. Respiro fundo. Circulo à volta da mesa a planear a estratégia. Respiro com calma, centro o meu foco na direção e na força controlada que me deixa as bolas todas nas entradas dos buracos. O adversário ataca uma e outra vez até que por fim falha a preta. Tenho três bolas bem posicionadas. Tiro as medidas ao jogo. Deslizo como uma pantera pronta para chacinar a presa. Seguro no taco com a ferocidade e confiança de um daqueles bad boys que há nos antros de perdição. Só me faltam os olhos semicerrados pelo fumo da beata no canto da boca e duas armas nos bolsos.
"Foca-te, tu consegues." E meto uma. "Respira fundo, aproveita essa alegria confiante." Meto outra. Mantenho-me completamente neutra, sem manifestar qualquer reflexo do que estou a sentir. Meto a terceira bola e preparo-me para jogar à preta. "Yes!! Estás a jogar mesmo bem, nem importa que não ganhes!" digo a mim mesma. "Não ganhar?? Estar tão perto e não ganhar?? Maluca!", respondo-me.
Faço pontaria à preta. Doseio a força, esse meu ponto fraco quando é usado em excesso. Dou a tacada e fico a olhar para o lento rebolar da bola. Entra. Ganho o jogo outra vez. O adversário retira-se sem dizer palavra. Sabe tão bem ganhar. Tão bem, tão bem, tão bem!!
Tirando o condimento da sorte, todos os ingredientes necessários para ganhar dependem apenas de nós: o foco, a aptidão, a motivação, o esforço e, claro, a alegria de estar no desafio. E não me venham cá com histórias porque só jogar bem não é tudo. É que não é mesmo!

Ana Amorim Dias

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