(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

25.4.12

Três mantos



   Na saga do Harry Potter, o pequeno herói usa, por diversas vezes, o manto da invisibilidade para poder estar em locais onde não era suposto estar e ver coisas que não era suposto ver. Por mais que me custe, confesso que, como a maior parte das pessoas, costumo dar uso a um manto: o manto da insensibilidade. Não pretendo arranjar desculpas, mas talvez seja devido ao constante bombardeamento de coisas más a que estamos sujeitos, que esse manto é tão usado. Optamos por ser menos humanos   e  mais insensíveis e dados ao uso desta carapaça que nos “protege” de sentimentos como a solidariedade, a piedade ou a caridade. Usamos esse manto que nos impede de consolar quem chora e nos mantém a uma distância segura dos outros por forma a não nos identificarmos com as suas dores.
  Mas vou mais longe porque, sendo hoje o dia da liberdade no nosso país, há um terceiro manto que também usamos mal. Pensamos que somos livres, mas não estaremos apenas a usar um manto fingido de falsa liberdade?  A liberdade não passa só por eleições democráticas;  por dizer e escrever o que se pensa;  ou  por estarmos seguros que nenhuma polícia política  nos vai bater à porta para nos prender ou torturar. Esse é um tipo de liberdade básica que a sanidade Humana jamais devia deixar cair por terra. Este manto de falsa liberdade de que vos falo é aquele que envergamos quando dizemos ser livres sem o sermos de facto. Considero que liberdade é a  faculdade de auto determinação de acordo com os nossos valores e essência,  desde que conjugada com o respeito ao próximo. Considero que ser livre é acreditar em nós mesmos e nas nossas escolhas, agindo de forma a poder trilhar o caminho que escolhemos para nós.  Agora digam lá, quase quarenta anos depois do 25 de Abril, quem é que se considera realmente livre e quem é que sabe que apenas está ainda a usar o manto da liberdade?
Ana Dias

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