(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.2.13

Mãe carnaval

Mãe Carnaval

- Mãe! Não quero ir de motoqueiro, quero ir de pirata!-disse-me o marafado miúdo ontem, mesmo antes do jantar.
- Mas João...- repliquei.
- P I R A T A!-
- Então, meu amor, desenrasca-te como quiseres porque não tenho nada preparado.
Ou melhor, ter até tinha: o fato integral da ski e o respectivo capacete fariam dele o motard mais giro do Algarve, mas lá acabei por lhe desencantar um chapéu de corsário e a pala a condizer.
- É o que há! - Disse eu ao entregar-lhe as coisas- o resto da indumentária procura tu nas tuas roupas.-
Teimoso como é, lá arranjou maneira de compor o figurino, deixando-me a pensar que não sou boa Mãe Carnaval.
Não me importam as origens, o peso cultural nem o papel que tem no ânimo das gentes. Não gosto de Carnaval e começo a duvidar vir a gostar algum dia. O motivo é simples: não acredito na veracidade e consistência da alegria com dias marcados. A paródia deve ser uma constante diária que nos faz brincar com a vida e rir de tudo a toda a hora. A folia de representar outros papéis e saber rir de nós e dos outros, só nos ativa a felicidade se acontecer com espontaneidade.
Contudo, enquanto escrevo, percebo que não é a minha intolerância visceral a estes dias que vai fazer de mim uma má Mãe Carnaval... Por isso vou ali num instante comprar uma espada ao moço.

Ana Amorim Dias

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