(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

15.1.13

O pão que um anjo amassou

O pão que um anjo amassou

Adoro expandir os meus conhecimentos...nem que seja com farinha. E dou particular valor à sabedoria experimentada porque, mesmo que não a volte a usar, enriquece-me as vivências, e claro, os escritos.
Mas deixem-me começar pelo princípio.
Já tenho amassado pão de saltos altos. Também já o fiz toda encasacada ou só de biquini e pareo. O que importa mesmo é a vontade e amor com que se amassa. E fazê-lo dá-me prazer. Pela sensação de pôr as mãos na massa e por sentir uma responsabilidade guerreira de alimentadora e zeladora que não sei explicar muito bem. Mas no outro dia foi diferente. Vi-me a braços com o próprio forno a lenha pela primeiríssima vez. Deixaram-me os paus a arder e foi tudo.
Aflita, liguei à minha sogra para me vir acudir. Não podia...mas explicou-me ao telefone o que tinha que fazer: - Quando já não houver fogo nenhum, pegas no rodo, tiras as brasas quase todas e deixas só um montinho à porta do forno para não deixar fugir o calor. Depois lavas o chão do forno duas ou três vezes com um trapo preso à ponta de um pau e de seguida metes o pão, que isso já tu sabes fazer.-
Anotei tudo mentalmente. Não me parecia difícil. Dois segundos depois a minha sogra ligou de novo.
- Ana?-
- Sim?-
- Tens que vez se o forno não está demasiado quente antes de pôr o pão!-
- E como faço eu isso?-
- Atiras um punhado de farinha lá para dentro. Se a farinha queimar instantaneamente tens que lavar o forno um pouco mais, caso contrário pode queimar logo tudo.
Respirei fundo. "Tu consegues, Ana!" E, claro, consegui. Mas confesso que o momento alto foi o do teste da farinha, que atirei com poderes de anjo a fazer os seus milagres. Talvez seja por isso que, no fim da odisseia, elevei um pão aos céus a pensar: "Aqui está ele: o pão que um anjo amassou..."

Ana Amorim Dias

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