(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

11.12.12

Possuídos



        Nenhuma pessoa possui outra. Excepto talvez os escritores.
     Nenhum escravo foi jamais do seu “dono”.  Nenhum amante foi jamais do seu amor. Ninguém pode ser verdadeira e completamente possuído por outro alguém. A menos que tenha o pesado fardo de fazer parte da vida de quem faz da vida as palavras.  Aí sim, é-se possuído. Integralmente e sem defesa possível.
     Não há antídoto capaz de parar tal domínio. Não há apelo, calado ou surdo, que trave o roubo dessas almas que os escritores podem vestir com as vestes que quiserem, nomear com o nome que escolherem ou com o sexo que desejem. Quem convive com um escritor, nasce e renasce, em tantas personagens quantas ele entenda; com tantas nuances quantas as que ele em si veja; com tantas cores, odores e  sabores quantos os que ele lhe sinta.   Quem convive com escritores carrega um  dos mais pesados fardos que um ser humano pode ter: perde o domínio de si.
     Li algures que quem ambicione a imortalidade deve ser amado por um escritor. É a mais pura verdade. A menos que a humanidade se extinga, essas pessoas ficarão para sempre. Para sempre conservadas nos laboratórios da escrita.
- Tem cuidado com ela. Distrais-te um bocadinho e faz mil estórias contigo.  – Comentam,  às vezes,  de mim.    E eu sorrio.
- Tem cuidado com ela. É como  um vampiro  que te vai sugar  as  entranhas.  – É o que me dá a  ideia de ouvir.     E eu sorrio.     Sorrio do meu poder.    Não sou dona de ninguém, mas sei que todos possuo.

Ana Amorim Dias

Sem comentários:

Enviar um comentário