(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

24.12.12

Como outro dia qualquer


  Faz hoje seis anos. A fim da manhã ela apareceu a correr e chamou-me.
- Ana, depressa, é o senhor João, ele não acorda!-
Corri cerro acima a uma velocidade que não sabia ter. Entrei no quarto e vi-o deitado e sereno, as mãos unidas debaixo do rosto. Percebi pelo seu sorriso de paz que não íamos jantar juntos. Toquei-lhe. Estava frio.
  Passei aquela véspera de Natal a tentar fazer ver a todos o que eu própria entendera daquele sorriso magnífico: há pessoas tão grandes, marcantes e especiais que se despedem com o carisma com que viveram; pessoas para quem a vida era uma celebração tão constante que apenas faria sentido partir assim, num dia de festa, com todos reunidos à mesma mesa a brindar em sua honra.
  Não me lembro deste ensinamento só nas vésperas de Natal. Recordo o avô João tanto hoje como noutro dia qualquer. Como é em todos os "dias quaisquer" que recordo com amor quem já se foi por morte e quem já se foi mesmo ainda estando vivo; é em todos os "dias quaisquer" que habitam em mim os presentes e os ausentes,os que me entendem e aqueles para quem permaneço um enigma indecifrável, os que me amam e os que me guardam raiva, os que já entenderam o sentido das suas vidas e os que ainda estão a anos luz de o encontrar...
    Sento-os todos comigo à mesa esta noite, como os sento noutro dia qualquer, porque só me faz sentido viver se todos os dias forem como hoje: um dia tão festivo como outro dia qualquer.
Ana Amorim Dias

1 comentário:

  1. Interesante espacio el tuyo,
    que disfrutes estas fiestas.
    ¡Feliz Navidad!
    un saludo.

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