Segundo a minha mãe, não há assunto que não me inspire.
- Como é que escreves assim sobre tudo? - Pergunta-me às vezes.
- Sei lá! Se calhar é porque há sempre algo a dizer sobre tudo. – Respondo-lhe.
E hoje apetece-me fazer um tributo aos dedos.
Uma vez cortei um bifinho de um dos meus dedos na fiambreira. Sem ter tempo para o impedir, deitaram-no para o balde do lixo, agarrado a uma fatia de queijo. Apesar da aflição do momento, guardo a memória com carinho. Não pude coser de novo a mim a parte deitada fora, mas o dedo sarou e só olhando com atenção se percebe a imperfeição. Desde então passei a respeitar mais os dedos. Não apenas os meus, mas os dedos em geral. Eles são uma das portas mais escancaradas da nossa perceção sensorial. Com a ponta dos dedos consegue-se ver de uma maneira diferente do que com os olhos. Não é à toa que dizemos constantemente às crianças: - “ Não toques, não é para mexer!”. A “visão” da ponta dos dedos é mais apurada com texturas, temperaturas e outras canduras; capta tensões e percebe emoções. Os dedos fazem, agarram, apalpam e sentem. Os dedos não mentem. Os dedos atuam, flutuam, amuam. Descobrem segredos e revelam enredos. Os dedos acalmam, serenam e aplacam; viajam nos corpos de quem se ama e completam o sentido da vida com todo o tato.
Fico feliz por o “bifinho” perdido não ter levado consigo toda a magia que na ponta dos dedos se encerra…
Ana Amorim Dias
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