(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

15.5.12

Boa noite, aranha




    Ela passou à minha frente num caminhar convicto feito a oito patas. A imaginação fez-me logo vê-la como se fosse às compras, carteira a tiracolo com a lista escrita lá dentro. Indiferente aos meus desaires, ela continuou a caminhar, sob este olhar atento e carinhoso. Mas antes tinha-lhe reparado na sombra. Uma sobra enorme, assustadora, muito maior que a própria aranha que, inofensiva, apenas seguia o seu caminho.
   Fiquei com o olhar lá preso: aranha e sombra; realidade e ilusão. Quando, pouco depois, me fui deitar, levei comigo uma consideração importante. Quantas vezes não conseguimos distinguir a realidade,  das sombras? Quantas vezes não tememos a ilusão que não corresponde à realidade? Quantos medos injustificados não termos, que passariam com um mero olhar mais atento e isento? Porque uma coisa é certa: embora a sombra que ontem vi, me tenha despertado instintos assassinos, aquela aranhita simpática apenas arrancou de mim um “Boa noite, aranha…”
Ana Amorim Dias

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