(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

15.4.12

Na génese da santidade


 
     Como há bocado consegui vencer a inércia das manhãs de domingo e pôr o corpinho a mexer, fiquei com  ideia de que hoje iria escrever sobre as vantagens de vencer a preguiça. Mas o imprevisto aconteceu: enquanto passava os olhos pela  revista dominical de um jornal diário, fiquei presa a um artigo. Falava de castidade.
   Entre vários testemunhos, teorias e justificações, houve uma que traumatizou: um homem (que nem sequer é padre) afirmava que renuncia ao sexo porque busca a perfeição e a santidade.
  “Cum caneco”!! Então quem assegura a continuidade da espécie não pode ser perfeito? Se todos aspirássemos à  santidade,  a humanidade  extinguir-se-ia??  Não faz sentido,  porque todos devemos esforçar-nos por chegar o mais perto possível da santidade!  Respeito as escolhas de toda a gente, desde que não prejudiquem os demais (não me parece que este senhor prejudique quem quer que seja a não ser, talvez, a namorada) mas isso não invalida que reflita sobre as coisas.
   Ao ler a tal reportagem lembrei-me do meu terceiro romance, o “ Orgasmos da Alma” que, apesar do seu forte título,  é uma obra absolutamente casta e que mergulha bem fundo em todo o tipo de orgasmos que podemos ter… com a alma. Incrivelmente, o sexo só nele entra na última frase da última página,  quando Diego confessa: “Nessa noite tive vários orgasmos da alma… a acompanhar-me os do corpo.”  
   E porque vos estou a contar isto agora? Para que me sigam o raciocínio:   O sexo não é feio. Nem mau. É uma “ferramenta” que, quando bem utilizada, nos eleva para dimensões perfeitas, para lá do tempo e do espaço. É uma maneira sublime de elevação, iluminação e vislumbre do divino. E eu chamo orgasmos da alma às experiências magníficas que vivenciamos  sem o corpo e que nos conduzem ao mesmo resultado. Também as sensações de perdão, de amor intenso,  de enfrentar medos, de nos superarmos, de aprender ou de apreender conceitos como a beleza ou a arte, têm a capacidade de sublimar a nossa existência.
   Somos um todo. Somos metade matéria e metade intangível. Porque não podemos usar tudo o que nos compõe para avançar na nossa evolução pessoal?  Conseguem Imaginar como seria o Mundo se todos começassem o dia com um bom orgasmo do corpo? Aposto que os da alma seriam muito mais prolixos e tudo seria melhor.
 E isto deixa-me  a pensar: será que não são os orgasmos,  do corpo e da alma, a mais forte génese da santidade?...
Ana Dias

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