(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

20.3.12

Na mais ordeira anarquia


   Em tertuliana conversa com outros poetas, saiu-me esta frase: ” Há duas condições importantes na vivência poética: o exercício da boémia e o gosto pela anarquia.”  Valeu-me o facto de não ter sido absolutista,  pois estes dois requisitos, embora importantes, não são o que define o poeta.  Aliás,  os poetas e todos os demais artistas têm como única peculiaridade absoluta, o facto de ( para o mal e para o bem) se saberem ouvir a si mesmos.
   Mas ficou-me a anarquia a zunir nos tímpanos da alma enquanto,  ontem à noite, adormecia. Vai daí abri o google no iphone e pesquisei ANARQUIA: “… erradamente associada aos caos e desordem, vem da palavra grega anarckos, ou seja, sem governo. (….) Baseia-se na estrutura auto-gestionária, sem regras, autoridades ou hierarquias (…) só valoriza a liberdade natural de cada indivíduo(…).”
   Sejamos francos: eu, tal como vocês, sabia o que é a anarquia. Mas a leitura destas coisas quando já estava  no enlevo do sono, trouxe-me uma brilhante ideia. Vou declarar a República Independente da Minha Pessoa !!  Mas, mesmo antes de o Morfeu me tomar nos seus enormes braços de um sono tranquilo, tive um rasgo de consciência e percebi que a anarquia é uma utopia pegada. Uma estrutura auto-gestionária, sem regras ou hierarquias,  havia de dar uma coisa jeitosa…
   O clarear do dia trouxe-me de volta as plenas funções do meu raciocínio e o tema inicial que despoletou esta crónica: a poesia.
   Afinal os poetas, com o devido respeito que devem prestar às rimas, métricas e outras formalidades, podem ou não ser anárquicos? Os artistas vivem ou não no caos desregrado da sua liberdade natural?
   Perdoem-me terminar como qualquer bom demagogo, dizendo que tudo deve ser doseado. Sejamos artistas ou nem por isso, a virtude da nossa condução pelas vielas ( mais ou menos boémias) da existência, deve ser a conjugação de doses bem medidas de caos e ordem; deve  resultar do respeito às regras fundamentais e do uso e abuso da nossa liberdade intrínseca. E tudo isto porque me parece que as mais marcantes vidas e obras se têm construído… na mais ordeira anarquia!
 Ana Dias

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