Esta tarde, ia eu de carro com o meu irmão, quando um dos telemóveis me desapareceu misteriosamente. Liguei para perceber onde estava e, enquanto ele o ouvia a tocar debaixo do meu banco, a mim parecia-me soar debaixo do banco dele… Então olhou para mim muito sério e disse. – “ Mas tu estás daltónica dos ouvidos?” - Desatei a rir e respondi: - “ Talvez… mas o que é certo é que o teu carro “tragou-me” o telemóvel!!” – E ainda acrescentei que o carro dele tem tripla personalidade feminina pois ouvi o carro a falar com a voz da minha mãe, da minha cunhada e da senhora antipática do tom-tom ( …os meus carros não têm essas frescuras….)
Mas foi assim desde sempre: este homem lindo, bom e genial, que teve sempre notas brilhantes e possui capacidades de raciocínio assombrosas, é capaz de disparates tão cómicos quanto memoráveis… ( aos cinco anos descrevia os estrábicos como tendo os olhos abanados…)
Este meu mano super inteligente, paciente e admirável é aquele que me encobria na adolescência e protegia ao mesmo tempo; é o mano mais velho que sempre me viu como brilhante e me admirou como sou; o mesmo que me falava das estrelas e das galáxias na minha primeira infância e, nos meus doze anos, me convenceu a ler os livros do Carl Sagan ( com sucesso porque os “papei” a todos, que remédio…). É este o mano que me acompanha desde sempre e desde sempre me faz rir com as suas deliciosas “saídas”…; o mesmo que sei que estará lá sempre para me proteger e para ser, por mim, protegido…
E é por isso, em sua honra, que quero guardar para sempre o momento mágico deste dia… aquele em que me foi diagnosticado o daltonismo dos ouvidos….
Ana Dias
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