Não sei porquê, acordei com a palavra “azimute” a saltitar-me no pensamento. Além de ser uma medida de abertura angular usada nos meios náuticos, “azimute”, para mim, é nome de barco. Deve ser por isso que o pensamento seguinte me caiu no “Charrama”, o barquito do meu pai que, nos meus tempos de criança, transportava toda a família ( mais o cão, o piriquito e o aquário com os dois peixinhos vermelhos) para acampar na ilha do Farol. Daí a lembrar-me do episódio do polvo foi um salto.
A verdade é que eu era tão pequenina que não guardo memória da ocorrência, mas tantas vezes a ouvi, narrada pelo meu pai, que se me formaram imagens de tão singelo momento. Íamos os três no “Charrama”: eu , o meu pai e o meu irmão e, a certa altura, o meu pai apanhou um polvo tão grande que eu, apavorada com a maquiavélica aparência dos tentáculos do animal, comecei a chorar de medo. Para que o susto me passasse, o meu pai segurou-o do lado de fora do barco e o bicho aproveitou o momento para se esgueirar de novo para o mar.
Houve alturas em que cheguei a pensar que o meu pai tinha ressentimentos comigo por ter sido a minha birra a fazê-lo perder tão possante animal. Mas não. Não era ressentimento. Era apenas uma história que contava com o doce sabor da proteção paternal a envolver-lhe as palavras. É que, percebi-o agora, ele teria deitado fora todos os polvos do mundo só para não me ouvir chorar.
Ana Amorim Dias