Sempre que eu e os meus irmãos estamos juntos, os disparates reinam e as gargalhadas divertidas são uma constante. Não sei se isso acontece por termos o mesmo tipo de humor, que nos faz rir muito mais entre nós do que com estímulos externos, ou se é por pertencermos a um grupo muito restrito a que mais ninguém poderá, jamais, fazer parte: o grupo de pessoas que sairam da barriga da minha mãe!
Ora este trio a que pertenço tem peculiaridades tão exclusivas que a sensação de pertença não é comparável a mais nada. Nesta espécie de clã, elitista e impenetrável, impera uma regra básica e irrevogável: a nossa irmandade ( e os nossos secretos super-poderes de entendimento supremo) é inabalável e eterna. Se calhar é por isso que, nos dias de festa em que a casa estava cheia de gente, nos trancávamos a sós na casa de banho para poder dar largas às nossas divertidas tolices. Talvez seja também por isso que continuamos a conseguir comunicar por dialetos estranhos, inventados na infância, que mais ninguém percebe… nem mesmo os nossos filhos.
E hoje ao almoço, estando os três na presença da minha mãe, comentou-se novamente que todos nascemos ao Domingo. O meu irmão logo de manhã, a minha irmã à hora de sair da missa e eu… bem, eu cheguei às primeiras horas da madrugada, já a antecipar o gosto pela criatividade noturna. Fiquei a pensar no facto de todos termos chegado à vida em dias dominicais. Terá sido coincidência? Ou terá sido um sinal? Terá sido um presságio de que as nossas vidas decorreriam tão despreocupadas e leves como as tardes de domingo? Um aviso de preguiça sei muito bem que não foi porque não somos dados a isso. Por agora não tenho mais teorias a formular quanto a este pouco preocupante assunto, mas pode ser que um dia se faça mais luz quanto a isto. O que redescobri, ao escrever esta crónica, foi que duas das prendas mais belas que a vida já me meu, foram-me dadas… ao domingo!
Ana Dias