A minha relação com a escrita é por vezes descrita pelos outros como sendo obsessiva. Costuma ser-me dito em forma de elogio, o que não me impede de ficar a pensar que a palavra obsessão é, por definição, um transtorno.
Em termos técnicos, obsessão é um transtorno de ansiedade caracterizado por pensamentos e comportamentos exagerados, irracionais e incontroláveis, considerados estranhos para a sociedade.
De acordo com esta definição, dou-me como culpada. Sou obsessiva compulsiva com a escrita. Tenho manias e “rituais”; fico indisposta se não escrevo e, durante a gestação de cada novo romance, vivo com os personagens no meu dia a dia, quase como se fossem reais. Ao fim da noite, escrevo com o pensamento a crónica da manhã seguinte; na manhã seguinte, anseio pelo momento em que o Word se abre em páginas nuas que vou rechear e, ao longo do dia, quando a vida me chama a outros assuntos, chego a sentir a culpa de não estar a fazer o que nasci para fazer.
A conotação negativa que me habituei a dar à palavra obsessão, terá que mudar. Porque amo viver assim, compulsivamente obsecada pelos jogos de palavras com que verto os pensamentos e estórias que não consigo guardar cá dentro. Como um vulcão sempre ativo, tenho que verter a criatividade na forma escrita. Caso não o fizesse, implodiria em vazio.
É por isso que digo que não escrevo para vocês. Escrevo para mim. Feliz por saber que tenho com quem partilhar o resultado desta minha obsessão.
Ana Amorim Dias