Ela acabou de colocar a loiça na máquina de lavar. Olhou para o balde do lixo com preguiça mas pegou nele e saiu para a rua. Lá fora sentiu o calor da noite e o luar que a banhava. Caminhou os trinta passos que a separavam do contentor verde, embalada pela sonoridade ritmada da música que estava a ouvir. Caminhou os trinta passos a deixar-se envolver pela tranquilidade e segurança daquele paradisíaco vale tão protegido do mundo. Colocou o saco no contentor e começou a voltar para casa.
E então a sua sombra tomou-a nos braços e roubou-lhe uma dança. “Hoy voy a verte de nuevo, voy a alegrar tu tristeza, vamos hacer una fiesta… “ cantava a Gloria Stefan. E ela rendeu-se. Dançou com a sua sombra sob a luz cintilante do luar. E na sombra viu a silhueta do Cristo redentor, viu o pensador de Rodin e o Poseidon com o seu ceptro. Dançou com todos eles ao luar, num êxtase inesperado que a fez voltar a si.
Volveu a casa no fim da música. Colocou um novo saco no balde do lixo e suspirou de alegria. O dia tinha valido a pena.
Ana Amorim Dias
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