Qualquer dona de casa, por poucos estudos que tenha, é melhor economista do que os nossos governantes têm sido. Qualquer pessoa percebe que quando as receitas não chegam para cobrir as despesas há que reduzir os gastos.
Tenho trinta e oito anos e chego à conclusão que o País, durante toda a minha vida, foi (des)governado por cabeças ocas e gananciosas que só olharam para o crescimento do volume dos seus próprios bolsos, sem olhar às consequências que inevitavelmente trariam a dez milhões de pessoas que se estão a tornar indigentes.
O (des)governo destas décadas é semelhante ao de uma dona de casa que, com o seu modesto salário, se permitiu comprar vestidos Gucci, sapatos Manolo Blahnik, malas Louis Vuitton e comer em restaurantes gourmet todos os dias. É semelhante a uma dona de casa que, com o seu modesto salário, adjudicou obras milionárias na sua casa de duas assoalhadas, fazendo a entrega de entradas chorudas a que perdeu o direito por não ter como levar as obras até ao fim.
Sempre me senti segura neste país que é o nosso. A par com o clima ameno, com a beleza deste retângulo à beira mar plantado e com a suavidade das gentes, sempre amei Portugal pela sua capacidade de me fazer sentir segura e sem medo. Nunca experimentei o pavor de não poder falar o que penso nem de ouvir balas a zunir pelo ar quando saio à rua. E de que serve isso agora? De que serve este amor e valorização quando parte da minha família está na iminência de ter que emigrar? De que serve o bom clima e a nossa linda História, quando todas as pessoas se vêem roubadas por um Estado que supostamente deveria zelar pelos seus?
Como dona de casa que também sou, já vivi ocasiões em que tudo o que era supérfluo teve que ser banido. Já vivi em grandes casas e em apartamentos mínusculos. Mas nunca roubei ninguém. Nunca, para manter o meu bem estar, lezei quem quer que fosse, muito menos o poderia fazer com quem tenho a obrigação moral de cuidar.
Ao longo das últimas décadas os nossos governantes têm sido pais tiranos e injustos; viciosos e viciados. Têm sido como aqueles pais bêbados, drogados e sem honra que roubam as poupanças dos filhos e lhes tiram o pão da boca!
O problema é conjuntural e estrutural. Não se soluciona nem rápida nem facilmente, se é que ainda tem solução. Não digo que os “filhos” da Nação não estejam dispostos a sacrifícios, mas é imperativo que os “filhos da mãe” que nos (des)governam, compreendam que não é só a apertar a rosca que isto lá vai. É preciso que deixem os empresários ( ignorantes ou não…) trabalhar. É preciso que entendam que a “venda” do turismo nacional no estrangeiro tem que ser apadrinhada. É preciso que responsabilizem criminal e civilmente quem gastou milhões em elefantes azuis às pintinhas cor de rosa. É preciso que devolvam alguma dignidade às pessoas e lhes recuperem a esperança e a capacidade de ganhar algum dinheiro pois sem ele a economia pára de vez e aí é que Espanha ficará com vista para o mar a toda a volta. É preciso que os “filhos da mãe” que nos (des)governam se humanizem um pouco mais e compreendam os dramas que se intensificam em cada casa, porque a economia, meus senhores, não serve para escravizar o Homem e sim para o organizar!
Ana Amorim Dias
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