Sempre a eito e com curvas
Já não me lembro bem da conversa. Nem sequer sei se foi na jantarada de sábado ou no almoço de domingo. Tanto quanto recordo, a Paulina estava a dar força a alguém (uma das suas especialidades), com um "É isso mesmo! É sempre a eito!". Imediatamente a seguir, trocámos um olhar divertido e corrigimos: "sempre a eito mas com curvas!"
Bem sei que uso demasiado a Estrada como alegoria e metáfora, como analogia à vida, e até, claro, como terapia. Ora o que as figuras de estilo têm de bom é que nos fazem viver, tanto na teoria como na prática, com muito mais arte!
Quando eu era mais miúda e me davam um bom piropo, costumava desculpar-me com o facto de os meus pais serem ambos formados em Belas Artes. Já não sou tão convencida a ponto de dar respostas dessas, mas continuo convencida da responsabilidade de ambos nas curvas que trago no corpo e no pensamento. A verdade é que não me imagino sem curvas. As do corpo fazem-me sentir segura na feminilidade e fertilidade, e as do pensamento transmitem-me a fértil sensação de constante criação. Quer sejamos pessoas/auto-estrada, pessoas/caminho rural, pessoas/rua de cidade ou pessoas/estrada interurbana, todos somos a estrada que percorremos e a forma como o fazemos. Devemos seguir sempre a eito, sem grandes dúvidas nem hesitações, respeitando os contornos da nossa estrada interior sem lhe temer os perigos.
O que continuo a achar é que, quanto mais curvas trazemos dentro, mais arte e prazer podemos tirar da condução em nós mesmos.
Ana Amorim Dias
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