(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

26.4.13

Sem bateria

Sem bateria

Oito e quinze, o minuto limite para sair de casa a tempo. O Tomás procura a mochila. O João ainda luta com os atacadores das sapatilhas. Eu corro até ao quarto e escolho uns quantos CDs para renovar o stock do carro.
- Go, go, go!- finalmente estamos todos sentados na viatura. Dou à chave. "Pio". Nada. Morreu. A última pessoa a usá-lo deixou a chave ligada. Não há bateria para ninguém.
- Rápido meninos! Acionar o plano B!-
Corremos para o outro carro enquanto eu profiro blasfémias em surdina.
Os CDs vêm comigo. Escolho um e ponho a tocar, ainda irritada.
- Mãe, emprestas o IPad?-
- Não! Assim talvez aprendam a estar prontos a tempo!- Conhecem a sua mãe suficientemente bem para escolherem fazer a viagem em silêncio. O mesmo silêncio que permite que a música entre em mim e exerça a sua magia.
"Não é grave. Levo-os à escola e o resto já se resolve", a alegria serena volta a atingir-me rapidamente graças a um cd que não ouvia há muito tempo.
"Que chatice, isto de deixar as músicas demasiado tempo nas pastas... Mas são tantas que há que ter tempo para as pôr a tocar e deixar que nos encantem." E então lembro-me das fotografias de grupo tiradas ontem na festa. Ocorre-me que também passamos a vida a estar demasiado tempo sem ver e ouvir todas as pessoas que nos encantam. Deve ser por isso que gosto tanto de reunir toda a gente: para os poder ouvir a todos e deixar que a alegria me invada com o som e a visão de cada presença. Até com a desta marota cunhada que me deixou um carro sem bateria...

Ana Amorim Dias

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