Não "encomudar"
A culpa deve ser minha. E do pai também, claro. Mas em primeiro lugar, minha. Os meus pobres filhos sofrem com o excesso energético da progenitora desde tempos uterinos. Lembro-me de um jogo de matraquilhos que ganhei junto à ribeira, às oito da manhã do primeiro de Maio de 2001, depois de uma inesquecível direta. Um mês depois, o Tom nasceu. Vinha cansado.
Lembro-me de um casamento que fiz, há oito anos por esta altura, no qual trabalhei como louca. Cinco dias depois nasceu o João. Como também (não percebo porquê) vinha bastante cansado, deixei-o a descansar e, passados mais cinco dias, voltei ao trabalho.
Desde bem pequeninos que levam estafas terríveis. Seguem-nos durante quilómetros, vivem experiências extenuantes, mantêm-se vivos e alerta muito para além do que seria de esperar, porque perceberam logo cedo que só assim conseguiriam acompanhar a "pedalada" dos pais e absorver a intensidade de imensas coisas que lhes é facultado viver.
Mas às vezes pedem tréguas. Adormecem nos sofás de uma qualquer esplanada ou aninham-se na tranquilidade merecida do banco de trás, depois de pendurarem no retrovisor o apelo do "não encomudar"!
Ana Amorim Dias
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