(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

17.4.13

Gemidos

Gemidos

Quando penso escrever sobre algo está tudo estragado. Já sei que nem vale a pena tentar reprimir-me. Tenho que escrever. E o que escrevo tenho que publicar.
- Tens uma escrita corajosa, Ana. Sobretudo para mulher.- dizia-me no outro dia um amigo.
Corajosa ou inconveniente? Continuo a acreditar no que digo e isso é enorme. Mesmo que inconveniente para alguns, talvez outros queiram ler.
Chega de introduções, fica só o apelo aos púdicos para que se abstenham de ler.

Uma vida sem gemidos não pode ser sincera. Sensual não é, de certo. E a sensualidade faz falta. O deslizar lânguido dos corpos, mesmo que sós, acresce pontos à estética emocional de todas as vidas. Faz falta assumir os corpos nus. Faz falta envergá-los à luz, na assunção plena do nosso paradoxo de humano e animal. Faz falta sentir, assumir e admitir o prazer. E este só é inteiro quando nos sai com sons suaves, expressivos, guturais. Sons que prolongam, exponenciam e expressam todo o nosso prazer. É que a vida já é tão gritante no que toca a coisas más que se a deixamos muda no que ao prazer diz respeito, perdemos metade da voz. Há que gemer, sim, para não calar o prazer. E porque a sensualidade faz falta.

Ana Amorim Dias

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