Esta frase esteve desaparecida do meu imaginário ainda infantil durante bom tempo. Voltou de repente. Como um conjunto de iluminações natalícias que subitamente se ligam e trazem muito mais que luz.
“Vou ali, já volto” era a frase do meu pai sempre que queria mostrar incredulidade ou indignação. Quando optava por se fazer de tolo perante alguma situação em que a atitude mais digna era desvalorizá-la e voltar-lhe as costas, saía-lhe o “vou ali, já volto”. E eu achava piada à subtileza que envolvia tais palavras, por virem daquele homem tão grande que de subtil pouco tinha.
O “vou ali, já volto” é muito maior que uma frase. É um ramo importante da árvore da sabedoria pois representa a capacidade de lidar bem com o que não importa, deixando cair por terra vindouras irritações. Não foi, contudo, assim que a frase ganhou de novo vida em mim. Isto aconteceu com contornos ainda mais valiosos: é que o “vou ali, já volto” também pode muito bem ser a atitude que temos perante os outros e que nos faz estar sempre presentes … mesmo quando vamos ali e já não voltamos.
Ana Amorim Dias
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