Viver no campo faz-nos ampliar a família. Não é que os ares extremamente puros nos façam ter ainda mais filhos, mas o modo de vida bucólico presenteia-nos, de uma forma única, com relacionamentos incríveis. Há duas senhoras de idade, a “Comadre” Maria de Fátima e a “Prima” Maria Irene, que são uma espécie de avózinhas para mim e para os meus filhos. Ora à luz desta explicação já podem imaginar as gargalhadas dos miúdos quando começo, na brincadeira, a dizer-lhes que uma é agente secreta da CIA e a outra é agente dupla do KGB… E ainda há umas semanas, perante a louca encenação que lhes estava a fazer, perguntaram-me os meus filhos:
- E tu, mãe? Também és agente dupla? –
- Claro que não! Eu sou agente tripla, mas não posso dizer mais nada, para vossa própria segurança! –
“ Agente tripla?? ” - pensei, - “ Que raio é isso? ”. Reservei a crónica para quando entendesse…
Passamos a vida no difícil equilíbrio de tentar agradar aos outros e a nós mesmos. E, no meio desta complicada e incessante “guerra fria”, acabamos muitas vezes por perder o fio de prumo da nossa verdade mais cristalina. Assinamos constantemente protocolos surdos, acordos de paz insuspeitos e tratados vitalícios que nos baralham o derradeiro sentido dos anos que por aqui passamos. E foi ao pensar um pouco sobre isto que percebi a veracidade da afirmação. Sim, sou Agente Tripla! Trabalho para a minha vida exterior e para a sua compatibilização com as vidas alheias que fazem parte da minha… mas, em última análise, sei que nunca perco a noção de que só entrego lealdade absoluta à evolução da minha essência.
Ana Amorim Dias
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