- Por aqui! – Desviei-me do percurso e comecei a subir a rua que estava à nossa esquerda.
- Mas por aqui porquê? –
- Sei lá eu! Por aqui porque sim!-
Passados breves instantes percebi de novo a razão de seguir os meus impulsos. Espreitei para o interior de um restaurante que, tenho que confessar, me deixou impressionada. Uma placa, logo à entrada, explicava a importância do edifício, mas o que mais me prendeu foi a soberba conjugação de bom gosto e requinte.
Visitei todos os espaços do espaço. Pé ante pé, revencial e meditativa. Caminhando como quem desliza num museu que é em si mesmo, também, uma obra de arte.
- Posso ajudar? – Um jovem funcionário aproximou-se de nós.
- Obrigada. – Respondi.- Estamos só a ver, mas creio que viremos cá jantar daqui a pouco.
- E têm reserva? -
- Não… É preciso? –
- Dêm-me um segundo enquanto verifico a agenda para hoje. – Desapareceu e voltou em segundos. – Penso que não deve haver problema, ainda há bastantes vagas. –
Pensei que estivesse a usar de um pouco de bluff. Não estava a conseguir imaginar que , a uma segunda feira, a considerável capacidade do restaurante ficasse lotada.
Saí e voltei um pouco mais tarde. O impecável staff já se atarefava em atenções aos clientes. Indicaram-nos mesa. Sentámo-nos e escolhemos o que iríamos comer, trocando algumas impressões baixinho. Foi então que o senhor que se estava a encarregar de nós se aproximou e, com uma simpatia sólida e discreta, confirmou: - Então será o polvo à lagareiro e a espetada de tamboril e camarão, certo? –
- “ Santíssimo Sacramento!” – Pensei. – “ O staff é composto por agentes secretos!”. E tal suposição acompanhou-me ao observá-los a trabalhar. O pefil e atitude de qualquer um deles, a par com o estilo dos clientes que foram enchendo completamente o espaço, fizeram-me acreditar que estava a jantar num filme.
Não sou crítica de restaurantes, mas este merece mesmo que não me poupe às palavras! Tudo no “Sacramento” do Chiado merece a nota máxima. O edifício e a forma como está mantido e sublimemente decorado; a apresentação das mesas e dos pratos; os odores e sabores; a temperatura do ar e a seleção musical. Tudo a conjugar-se para a experiência gastronómica perfeita.
Passou a ser, definitivamente, um dos meus preferidos. Não posso deixar de o aconselhar e repetir. Porque é raro, muito raro mesmo, encontrar “pérolas” tão perfeitas que a única alteração que eu faria seria no nome: acrescentava “santíssimo” a “sacramento”.
Ana Amorim Dias
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