Durante um passeio pela Sicilia houve um italiano que me contou uma história interessante a propósito das minhas adoradas alfarrobas. Não garanto a fidedignidade dos factos mas também nada me leva a crer que tenham sido inventados.
Disse-me o tal senhor que, no tempo da segunda guerra mundial, era costume mitigar a fome às crianças com as ditas alfarrobas, fazendo crer aos catraios que estavam a comer bananas secas, para que gostassem mais. Mas não se ficou por aqui e acrescentou que há uns tempos, contando a mesma estória a uma senhora de mais idade, ela lhe respondeu: - Ah!! Agora é que entendo, finalmente, porque é que as bananas secas tinham caroços! –
Gravei tal episódio porque me pareceram importantes estes caroços das bananas. No fundo e em termos amplos, todos já comemos, numa ou noutra altura da vida, bananas com caroços. Pode ter sido a crença de que a justiça era mesmo justa ou a convicção de que todas as pessoas são boas; pode ter sido a noção de imutabilidade da vida ou a certeza absoluta que que teríamos pais para sempre. E apesar de lá bem no fundo da nossa razão infantil sabermos que as bananas, mesmo que secas, não têm caroços, fomos acreditando que assim era, até ao dia das bombáticas revelações que nos confirmaram as suspeitas.
E, para quem aprecie metáforas, termino com a decisão que tomei: por mais que nunca me tenham dado alfarrobas a fazer-me acreditar que fossem bananas secas, come-las-ei, daqui para a frente, como se bananas secas fossem… bananas secas com caroços.
Ana Amorim Dias
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