Ontem fiquei a olhar para os armários forrados de livros na sala da minha mãe. Os mesmos que eu cheirava, lia ou consultava na infância e juventude. Fiquei presa à fileira dos grossos volumes que compõem a enciclopédia luso-brasileira, esse importante clássico de qualquer casa habitada por jovens curiosos com pretensões a bons estudantes. Ainda me lembro que a consultava amiúde para complementar as matérias e fazer os trabalhos que me eram pedidos.
Fiquei a olhar para as lombadas castanhas com a noção da sua atual inutilidade. Mesmo quem não tem computador nem internet em casa, pode usar essa infindável fonte de informação nas bibliotecas e outros locais e assim ampliar um pouco a sua cultura.
Vivemos na mais rica época de acesso à informação que a humanidade já conheceu. Temos, à distância de meia dúzia de cliques, todo o conhecimento a que possamos aspirar. Podemos, em segundos, saber o que se passa ou já se passou em qualquer local do Mundo. Podemos, num instante, saciar qualquer sede intelectual, tirar qualquer dúvida, aprofundar qualquer tema… mas creio que não nos apercebemos verdadeiramente da incomensurável riqueza que isso representa. E tudo porque, a muitos milhões de pessoas por este mundo fora, lhes falta a pontinha do fio para puxar.
Esta pontinha de fio de que vos falo é composta, em partes iguais, por dúvidas e curiosidade. O problema é que, para se ter dúvidas, é preciso um bocadinho de conhecimento e vontade de ter mais informações. Só assim se consegue usar a faculdade de pensar com mais clarividência e esclarecimento.
E agora pergunto eu: quantos de nós estamos dispostos a usar a faculdade de pensar? Quantos de nós estamos despertos para a importância da cultura histórica, geográfica, económica, política, social, artística e todas as outras que nos fazem falta para observar convenientemente o mundo e formular pensamentos sensatos? Quantos são os que estão capacitados a puxar essa pontinha do fio do conhecimento e transformá-lo numa maior riqueza pessoal e social?
Será que evoluímos das enciclopédias luso-brasileiras para a inesgotável fonte que é a internet para nada? Quero acreditar que não mas, quando vejo tanta gente a falar de futebol e do que se passa nas casas dos segredos e afins, quase me morre a esperança…
Ana Amorim Dias
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