Se acaso os budistas estiverem certos, tenho a certeza que já passei algumas vidas em Itália. A sonoridade da língua, a cultura, a gastronomia, as paisagens e a história, despertam-me uma sensação de pertença de tal forma confortável que não tenho como negar uma qualquer ligação ancestral.
Foi com a consciência deste inegável amor por Itália que voltei lá toda contente, desta vez a terras sicilianas. Foi sem esforço que, mesmo antes de partir, encarei Siracusa como o destino mais empolgante que iria visitar. E a razão é tão simples que chega a ser parva: a forma como o nome “Siracusa” sempre me bailou nos lábios e me soou no fundo da alma, conferiam-lhe, inegavelmente, o caráter etéreo dos sonhos.
Cheguei lá pela fresquinha. Visitei, passeei, fotografei, e até encontrei um recanto para entrar mar adentro como é costume. Mas a cidade não fez juz ao efeito que o seu nome produz em mim! Não sei explicar porquê, mas o “clic” não se deu. E lá me fui embora, algumas horas depois, um pouco desalentada pela deceção sentida.
Mas a vida sabe o que faz e, sem se fazer rogada, fez-me chegar a Modica, uma cidade que eu nem suspeitava existir. No fundo de um encantador vale, encontrei a cidade do chocolate e das gargalhadas. Parece que a receita do chocolate foi roubada a uns espanhóis que a truxeram dos Maias, mas não posso confirmar pois não me informei com exatidão. Já as gargalhadas que dei, sei bem porque foram libertadas, quase me levando ao doce pranto do riso.
Mas isso agora não interessa nada! O que importa é que tinha grandes expetativas sobre uma terra que me defraudou e nenhumas expetativas sobre outra, que se revelou um tesouro, e isso fez-me entender que nem tudo o que pensamos adorar é merecedor da nossa adoração ao passo que, às vezes, é de onde menos se espera que nos chegam as maiores bençãos.
Ana Amorim Dias
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