(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

1.10.12

Batom para a dor de garganta




   Enquanto procurava  comprimidos que me aliviassem a dor de garganta, encontrei um batom errante a navegar fora dos seus domínios.  Comecei a chupar o comprimido  e  olhei para o batom que os meus dedos seguravam.  – Será que me sentia melhor com os lábios pintados? –
  Tirei a tampa e espalhei-o nos lábios com uma generosa dose. – Onde andaste todo este tempo? A tua cor é perfeita.  – Continuei a chupar o comprimido enquanto namorava, ao espelho, aqueles lábios encantadores.
   Senti-me imediatamente melhor e,  já com o comprimido chupado, concluí que os créditos não eram só seus. Havia que partilhá-los com o garrido batom que me fez sentir tão bela.
   Se calhar a luta humana pela conquista da beleza em todas as suas manifestações não é algo assim tão fútil. Não. Não é mesmo. A nossa busca incessante pelos  refinados padrões estéticos de tudo o  que nos rodeia é uma demanda legítima e, quem sabe, imprescindível para o bem estar não só do nosso âmago como também do próprio invólucro que  o  encerra.
Ana Amorim Dias  

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