Enquanto procurava comprimidos que me aliviassem a dor de garganta, encontrei um batom errante a navegar fora dos seus domínios. Comecei a chupar o comprimido e olhei para o batom que os meus dedos seguravam. – Será que me sentia melhor com os lábios pintados? –
Tirei a tampa e espalhei-o nos lábios com uma generosa dose. – Onde andaste todo este tempo? A tua cor é perfeita. – Continuei a chupar o comprimido enquanto namorava, ao espelho, aqueles lábios encantadores.
Senti-me imediatamente melhor e, já com o comprimido chupado, concluí que os créditos não eram só seus. Havia que partilhá-los com o garrido batom que me fez sentir tão bela.
Se calhar a luta humana pela conquista da beleza em todas as suas manifestações não é algo assim tão fútil. Não. Não é mesmo. A nossa busca incessante pelos refinados padrões estéticos de tudo o que nos rodeia é uma demanda legítima e, quem sabe, imprescindível para o bem estar não só do nosso âmago como também do próprio invólucro que o encerra.
Ana Amorim Dias
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