- Queres ir almoçar a Puerto de Santa Maria?
- Está bem. Mas tenho artigos para mandar e só estou pronta lá para as onze.
Acabámos por passar a fronteira ao meio dia. Ainda o convenci a parar numas lojas em Sevilha e como o bom caminho é feito de belas paragens, detivemo-nos em Sanlucar de Barrameda e num fantástico pôr do sol em Chipiona, chegando ao Puerto de Santa Maria já à hora do Jantar.
Mas o mais interessante deste singelo “almoço” só chegou no dia seguinte. Tomámos um pequeno ferry para Cádiz, a cidade trimilenar de multiplas influências e considerável peso histórico onde eu já há anos estivera. Vi-a com outros olhos, como sempre acontece quando volvemos aos sítios muito tempo depois.
Mas deixem-me contar-vos a estória, que a introdução já vai longa.
Ao demabular entre a cidade velha e a nova, contaram-me sobre o terrível rebentamento de um engenho explosivo Franquista, ocorrido a 17 de Agosto de 1947. Além de ter visto a dentada que a explosão deixou na baía e os fragmentos dispersos da parte da mulhalha que se finou, ouvi o relato de quem sempre ouviu os mais velhos comentar o sucedido.
Parece que o estouro foi de tal forma forte que se chegou a ouvir no sotavento algarvio e é por isso que as pessoas de mais idade que por aqui sempre habitaram costumam dizer, face a algum barulho mais forte: - Isto até parece a peça de Cádiz! –
Ora agora que já conheço a expressão, fiquei com a firme convicção de não a deixar perder, pelo menos enquanto viver. E, quando os meus netos causarem algum estrondo mais forte, não só exclamarei que “já parece a peça de Cádiz”, como lhes contarei o que aconteceu e a forma como os seus trisavós, a tanta distância do sucedido, ouviram e se assustaram com o tal rebentamento.
É por isto e tantas outras coisas que viajar enriquece mais do que é possível explicar… mesmo que a viagem apenas consista num almocito em Puerto de Santa Maria.
Ana Amorim Dias
Sem comentários:
Enviar um comentário