Burros, inteligentes e espertos
Tenho um fraquinho por pessoas pouco inteligentes. Não estou a ser má, a sério que não: divirto-me a ouvi-las e a admirar a sua forma peculiarmente simples e limitada de encarar o mundo. Não tenho qualquer problema em entregar-lhes a minha confiança porque sei que dificilmente me poderão lesar e tenho a ideia de que quem nasce mais abonado em burrice, normalmente tende a compensar tal fraqueza com uma inocência adocicada por laivos de infantilidade. Com quem é genuínamente burro aprendem-se coisas incríveis, como o espanto e a pureza de cada singela descoberta.
Também tenho um fraquinho por pessoas muito inteligentes. Os neurónios ligam-se-lhes com uma eficácia esplendorosa e normalmente limitam-se a colocar tais aptidões ao serviço dos seus geniais devaneios, atingindo amíúde estados em que se tornam capazes de fazer evoluir o mundo. Tendo a confiar nos génios pois não costumam fazer mal a ninguém, de tão embrenhados que se encontram no seu universo mental. Quando estamos perante alguém provido de prodigiosa inteligência também podemos subliminar-nos se nos soubermos munir de atenção e sede de novos conhecimentos.
Mas de quem eu mais gosto é dos espertos! Há algo de desafiante no contacto direto com pessoas assim. Os espertos têm uma inteligência razoável regada com certa maldade que usam indiscriminadamente em prol do seu próprio proveito. Não têm pudor em mentir com uma displicência tal que acreditam na verdade de cada falácia impingida e o seu maior orgulho é sentirem-se ilesos no alto do seu nível mental que lhes segreda ao ouvido a garantia de levarem sempre a melhor. Sim, com os espertos aprendemos lições impagáveis… mas só se tivermos inteligência suficiente para conseguir que nos considerem completamente burros.
Ana Amorim Dias
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