Devia ter escrito esta crónica há cerca de duas semanas, enquanto os factos ainda estavam fresquinhos. Agora terei que usar essa ferramenta (por vezes falível) a que chamamos memória e tentar recriar com fidedignidade o que aconteceu.
Era domingo e fui tomar a minha meia de leite a um café que fica um pouco a norte de Altura, de seu nome “Carrapato” mas que, apesar do nome algo estranho, tem os melhores caracóis cá da zona.
Instalei-me, meia ensonada, a beberricar o meu néctar matinal e não pude deixar de ouvir a conversa de dois senhores de idade, que implicavam um com o outro.
- Tu devias era chatear-te a sério com isso! – Dizia um.
- Eu não me chateio com nada… - As reticências que deixou no ar pareceram-me encerrar um: “isso dá muito trabalho.”
- Claro! – Tornou o primeiro. – Estás sempre aí feito mazurrão! –
Espero que ninguém tenha reparado que quase me engasguei com o café com leite que tinha na boca! A minha reação foi idêntica à dos caçadores ao ver a presa. Procurei freneticamente o meu bloco de notas dentro da mala e apontei aquela prenda dos céus antes de ter tempo de me esquecer da palavra.
Mazurrão! Como eu adoro viver no Algarve profundo! Uma pessoa pensa que já viu e ouviu tudo e eis que, no mais insuspeito momento, nos cai um tesouro ao colo! Tenho andado em investigações ( mais ou menos) profundas e ninguém conhece a palavra. Até procurei no google… e nada! Vale-me o facto de ter continuado atenta à conversa e ter entendido, pelo contexto, que mazurrão talvez seja mais ou menos parecido a preguiçoso.
O que é certo é que, nesse dia, vim mais rica do café! Trazia uma alegria estranha. Como podia explicar a quem me rodeia que aquela palavra me fez ganhar o dia? Serei uma colecionadora de palavras? Bem, de qualquer forma aqui a deixo, para o caso de, se algum dia vos chamarem “mazurrão” ou “mazurrona”, poderem responder: - Nem pense nisso! Eu até sou muito trabalhador/a! –
Ana Dias
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