- Chega-te para lá, gorda!
- Tomás! O teu irmão nem é gordo nem é uma menina. – Repreendo-o.
- Tá. Tá. Tá. Tá. Tá. – começa o João, para irritar o irmão.
- João, pára! – Diz o Tomás, atingido em cheio na sua fácil irascibilidade matinal.
- Párem! Os dois!
E eles continuam a implicar no banco de trás.
- É a última vez que vos aviso! –
Ao menos quando estão completamente ensonados, fazem o percurso catatónicos e nem os oiço, mas isso é raro. O restolho rasteirinho da implicância inicial dá lugar a alguma atividade física pouco amistosa mas, ainda assim, suave.
- Vou contar para trás e se não pararem, páro eu o carro e não repondo por mim!
Eles não me ouvem. Tenho a certeza que não.
- Três. Dois. Um… – Digo em voz sonora mas, para eles, inaudível.
Páro o carro na berma e saio. Abro a porta de trás com o ar mais feroz que a minha vontade de rir me permite. Apenas um “Ô ÔU!” do João quebra o silêncio que de súbito se instalou. Sacudo levemente o pó na perna de cada um. Volto a entrar no carro e peço a mim mesma paciência para os cinco quilómetros que faltam para chegar a Castro Marim.
Cinco segundos depois de arrancar, a novela mexicana dos manos no banco de trás volta a ganhar forma. Desisto! Ponho a música mais alto e penso que isto é a forma de mostrarem o quanto gostam um do outro … logo pela fresquinha!
Ana Dias
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