O ritmo interminável com que a senhora da mesa ao lado está a mexer o café, irrita-me profundamente. O facto de ter trocado três vezes de roupa ( quando acerto sempre à primeira) irritou-me profundamente. O batido de meloa que fiz para o pequeno almoço não ficou com o sabor que eu queria… e isso irritou-me profundamente. Até os índios dos meus filhos perceberam que a irritação é profunda e fizeram a viagem matinal sem dar pio. Isso irritou-me. Profundamente. Como se não bastasse, a mesa onde escrevo todas as manhãs está ocupada! Aiiiiii que profunda irritação!!!
Leio o que já escrevi. Começo a rir. Percebi o que se passava assim que hoje abri os olhos e dei os primeiros sinais de Poltergeist. Raramente este fenómeno me atinge de forma tão acentuada mas, quando acontece, o melhor é fugirem! Fujam todos! Protejam-se! Hoje, para ser Hulk, só me falta ficar verde!
Mas conheço bem o antídoto. As palavras saem-me lentas, hesitantes. Não me importo. À medida que me forem saindo, pela manhã fora, o sorriso suave e doce vai voltar à minha alma e salvar-me de todas as irritações.
Já sabem, certamente, do que falo. Qualquer mulher me entende porque, volta e meia, também está assim. E qualquer homem que ature uma mulher também percebe pois são vocês, homens, quem mais sofre na pele o incompreendido terror que a TPM vos inflinge. Pobrezinhos… Aqui vos deixo hoje a minha simpatia e solidariedade. Não desesperem: por mais que esse síndrome ataque com força, também passa depressa. E em caso de perigo, não hesitem: fujam! Porque o seguro morreu de velho.
Ana Dias
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