Não há nada mais perigoso que o amor. Não há guerra, doença, desatre natural ou animal selvagem que seja mais devastador para o Homem do que esse sentimento que até hoje ninguém conseguiu descrever com a mais precisa exatidão. Por amor já se morreu (pelo menos por dentro), já caíram impérios e se mudou o curso da história. Em suma: o amor pode ser tão poderoso quanto perigoso.
O primeiro perigo do amor é surgir de surpresa, como uma praga absurda para a qual não há prevenção possível nem antídoto eficiente para quem dele queira fugir. O segundo perigo do amor é escapar-se, como areia entre os dedos, de quem o busca com desespero. O terceiro perigo do amor é a consciencialização da sua morte e correspondente enterro. Há quem perceba que já não ama, mas não tenha direito à sua libertação; há quem ame com todo o ser e seja abandonado, ou traído, ou mais uma infinidade de coisas…
Não quer dizer que aconteça sempre mas, muitas vezes, o perigoso amor dá cabo da sua maior vítima e produz o típico coração destroçado. E também os corações estraçalhados podem ser catalogados em diversas espécies e sub-espécies: os de regeneração rápida, os que levam meses e anos a curar-se e os outros, que nunca se curam.
Quando nos deparamos com alguém com o coração feito em cacos, o que há a fazer? Mandamo-los para o hospital dos corações durante dois, dez ou vinte anos? Vamos buscar fita cola? Impomos a nossa presença, arrombando algo que nem dá para arrombar por estar completamente desfeito?
E quando o amor se tranforma em simples gostar? Porque não aceitar? Haverá prova de amor maior que aceitar que o amor do outro morreu? Por mais voltas que dê ao assunto, não chego a nenhuma conclusão. Mas talvez um dia ainda descubra quantos anos se leva a enterrar um amor que morreu.
Ana Dias
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