Em tertuliana conversa com outros poetas, saiu-me esta frase: ” Há duas condições importantes na vivência poética: o exercício da boémia e o gosto pela anarquia.” Valeu-me o facto de não ter sido absolutista, pois estes dois requisitos, embora importantes, não são o que define o poeta. Aliás, os poetas e todos os demais artistas têm como única peculiaridade absoluta, o facto de ( para o mal e para o bem) se saberem ouvir a si mesmos.
Mas ficou-me a anarquia a zunir nos tímpanos da alma enquanto, ontem à noite, adormecia. Vai daí abri o google no iphone e pesquisei ANARQUIA: “… erradamente associada aos caos e desordem, vem da palavra grega anarckos, ou seja, sem governo. (….) Baseia-se na estrutura auto-gestionária, sem regras, autoridades ou hierarquias (…) só valoriza a liberdade natural de cada indivíduo(…).”
Sejamos francos: eu, tal como vocês, sabia o que é a anarquia. Mas a leitura destas coisas quando já estava no enlevo do sono, trouxe-me uma brilhante ideia. Vou declarar a República Independente da Minha Pessoa !! Mas, mesmo antes de o Morfeu me tomar nos seus enormes braços de um sono tranquilo, tive um rasgo de consciência e percebi que a anarquia é uma utopia pegada. Uma estrutura auto-gestionária, sem regras ou hierarquias, havia de dar uma coisa jeitosa…
O clarear do dia trouxe-me de volta as plenas funções do meu raciocínio e o tema inicial que despoletou esta crónica: a poesia.
Afinal os poetas, com o devido respeito que devem prestar às rimas, métricas e outras formalidades, podem ou não ser anárquicos? Os artistas vivem ou não no caos desregrado da sua liberdade natural?
Perdoem-me terminar como qualquer bom demagogo, dizendo que tudo deve ser doseado. Sejamos artistas ou nem por isso, a virtude da nossa condução pelas vielas ( mais ou menos boémias) da existência, deve ser a conjugação de doses bem medidas de caos e ordem; deve resultar do respeito às regras fundamentais e do uso e abuso da nossa liberdade intrínseca. E tudo isto porque me parece que as mais marcantes vidas e obras se têm construído… na mais ordeira anarquia!
Ana Dias
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